Más condições do Canil Municipal de Lisboa provocam centenas de queixas

"Associações apontam o dedo à câmara e à Direcção-Geral de Veterinária. Ambas rejeitam as críticas
Uma corrente de e-mails mostrando imagens e vídeos alegadamente comprovativos das más condições em que se encontram os animais acolhidos no Canil Municipal de Lisboa, em Monsanto, conduziram a centenas de queixas enviadas nas duas últimas semanas à Provedoria de Justiça e à câmara municipal. Várias associações de defesa dos direitos dos animais juntaram-se aos protestos, acusando o município e a Direcção-Geral de Veterinária de negligência em relação ao bem-estar dos cães e gatos. As fotografias e vídeos que circulam na Internet mostram cães presos com correntes curtas e encerrados num espaço reduzido, onde alegadamente comem, dormem e fazem as suas necessidades. De acordo com a situação descrita ao PÚBLICO por várias testemunhas, os animais estão constantemente encerrados, com más condições sanitárias e de saúde. As mesmas fontes acusam os veterinários municipais de negligência médica e apontam como principais problemas a falta de formação dos funcionários do canil para lidar com os animais e a ausência de uma chefia directa, com disponibilidade e competência para encontrar soluções.A Câmara de Lisboa negou estas acusações num comunicado divulgado pelo gabinete do vereador da Higiene Urbana, Pedro Feist, que garante que o canil está de acordo com a lei. Ainda assim, "atenta às condições de bem-estar animal", a autarquia diz estar a promover modificações nas actuais instalações, com a construção de novas boxes que têm "área de ar livre e zona de abrigo, de dimensões bem acima das exigidas por lei, permitindo a livre deambulação dos animais".Pedro Feist assegura também que o "mau estado" dos cães retratados nas fotografias que têm circulado na Internet não reflecte negligência da autarquia, mas sim "de alguns donos que permitem que os seus animais cheguem a estados de doença e desnutrição extrema, e que a Câmara Municipal de Lisboa acolhe e trata".A Liga Portuguesa de Direitos dos Animais acredita que este problema passa em grande medida por erros imputáveis à autarquia na concepção e construção do canil, em 1996, uma vez que as infra-estruturas não estão adequadas à actual realidade: "Antigamente os animais estavam no canil três ou quatro dias; nos dias de hoje chegam a estar vários meses e obviamente não há condições para os receber", sustenta a liga. A associação acusa também a Direcção-Geral de Veterinária (DGV) de ter grandes responsabilidades nas "más condições" do canil, uma vez que cabe a esta entidade aprovar, ou não, as infra-estruturas apresentadas pelas câmaras. Miguel Moutinho, da Associação Animal, considera o canil "uma obra absurda, mal construída e mal pensada" e também aponta o dedo à autoridade veterinária nacional. A DGV considera estas acusações "descabidas" e esclarece que a sua função se limita a aprovar os projectos das câmaras para o acolhimento de um determinado número de animais. Assim, "se o número de animais é excessivo para a capacidade do canil, a responsabilidade não é da DGV", conclui." in "Público", 26/12/2006